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Visita à Mustang Aeronautics
Nos contatos iniciais, antes de encomendarmos o kit, solicitamos o vídeo e o material ilustrativo à respeito do avião. Neles estavam contidos todo o prospecto, histórico, desempenho, aspectos da construção, ferramental necessário, e depoimentos de outros construtores. Tivemos boa impressão do material. Foi a grande " centelha" de todo esse processo. Martelo batido! Após o fechamento do kit com Chris Tieman, presidente da Mustang Aeronautics, eu gostaria de conhecer tudo sobre o projeto, principalmente as dicas básicas de construção, de como era o processo de fabricação dos componentes, a qualidade da manufatura, as instalações e o ferramental envolvido. Até quem sabe pudesse descolar um vôozinho no protótipo deles. Afinal, eu era absolutamente leigo no assunto. Até que, no dia 26 de fevereiro de 2000, embarquei no vôo NWA1923, da Northwest Airlines, partindo de Nova Iorque (JFK) rumo à Detroit (DTW). A sede da Mustang Aeronautics fica na cidade de Troy, ao norte de Detroit. Ao chegar no Detroit Metropolitan Airport, após 01:30 h de vôo, notei que havia acabado de nevar na região! Já vi que minhas chances de voar no Mustang II do Chris Tieman eram mínimas.
Neve na freeway I-75
Carro alugado e mapa na mão, pego a rodovia I - 94 direção leste e rumo à Detroit, até o entroncamento com a I - 75 , pegando o sentido Norte. Mesmo dirigindo sob condições meteorológicas adversas e pista escorregadia, mantenho firme o desejo de chegar a Troy antes que anoitecesse.
Estacionamento e prédio da M.A.
Após guiar aproximadamente 25 milhas (40 km) , chego ao bairro Big Beaver, em Troy. Eu já estava bastante cansado, pois o vôo atrasou 2 horas em Nova Iorque devido à problemas técnicos. Estava anoitecendo e julguei que era hora de procurar um hotel, e na lista de hotéis da cidade havia um Holiday Inn. No dia seguinte, às 9:00 finalmente chego à sede da M.A. Apesar de ter telefonado com antecedência para marcar esta visita com Chris, ele não se encontrava naquele instante. Fui solicitado por sua secretária para aguardar um pouco.
Com Chris Tieman, o dono
Após meia hora de espera, finalmente conheci o jovem Chris Tieman, engenheiro aeroespacial graduado pela universidade de Michigan, com "background" em fabricação de metais. Em 1986, ele tirou a licença de Piloto Privado de Avião, e logo procurou algo que fosse mais econômico e rápido que os aviões tradicionais. Adivinhem qual ele escolheu? Ele já havia comprado as plantas e o kit, quando em 1992 Robert Bushby decidiu se aposentar. Ele decidiu então comprar toda a infra-estrutura de Bushby e assim nascia a Mustang Aeronautics.
Seção de torno
Era hora então de conhecer as instalações. Surpreendentemente, percebi que era uma fábrica simples, com poucos funcionários e máquinas antigas. Aquele mito de que o fabricante era rico (ele tem um Ford Explorer 1994), a fábrica toda organizada, moderna e computadorizada veio por água abaixo. Senti ainda que a margem de lucro dele não devia ser lá grandes coisas. Tudo modesto e bem ao estilo da década de 60. Encontrei máquinas de solda, dobradeiras e prensas hidráulicas, estas últimas utilizadas na confecção de nervuras e cavernas.
Longarinas centrais empilhadas e 4 tanques de seção central
Na seção de peças pré fabricadas, Chris me mostra as longarinas, inclusive a nossa, com a inscrição 2035 (nosso número de série). Percebi também que ali eram feitas as soldas em alumínio dos tanques. Percebi também que em uma mesa haviam quatro tanques de seção central, com capacidade de 5 galões (19 litros) cada uma (não optamos por essa configuração). Nossa configuração era a de um tanque de 25 galões (95 litros) atrás do painel e duas wet wings (tanques integrais) de 75 litros em cada asa.
Carteira de pedidos
Andando por um dos compartimentos, notei que haviam 13 pranchetas afixadas na parede, sendo que em uma delas havia o nosso número de série. Tratava-se de uma espécie de cronograma interno de confecção das peças e embalagem/despacho do kit. Mais tarde fui perceber o porquê do nosso kit demorar a chegar no Brasil, pois a fábrica estava completamente sobrecarregada. Chris me disse posteriormente também que foram cometidos erros em nossa longarina central, e tiveram que refazê-la.
Gabarito com o "esqueleto" da asa
Ao chegar à outro compartimento, me deparei com uma asa semi-montada e afixada a um gabarito. A conversa que ali se sucedeu foi muito importante, pois ele me explicou uma série de coisas atualizadas no processo de construção, tais como o uso de rebites 3/32" nas nervuras e com metade do espaçamento indicado nas plantas, que tornaria a superfície da asa mais perfeita. O uso de rebites 3/32" também poderia ser utilizado em outras partes, mas sempre com metade do espaçamento. Ele também me chamou atenção quanto ao alinhamento do bordo de ataque, nivelamento do conjunto e sua importância no desempenho do aerofólio.
Chris me mostra o protótipo, cujo primeiro vôo foi em 9 de julho de 1966
Após aproximadamente uma hora de conversa, Chris me chamou para ir ao Oakland Troy Airport (7D2), onde estavam hangarados o seu Midget Mustang e o N1117M, o primeiro protótipo do Mustang II. Geralmente no mês de setembro, e dependendo das condições meteorológicas, ele sedia neste aeroporto o Mustang Openhouse, uma espécie de confraternização entre construtores, pilotos e entusiastas dos Mustangs. O evento conta com café da manhã, churrascos, vôos de demonstração e workshops. Chris me ressaltou também que, pelo fato de serem uma pequena companhia, o suporte ao cliente é bem personalizado, pois não há construtor que ele não conheça. Ao chegar em seu hangar, tive 100% de certeza de que não iria mais voar, pois ambos modelos encontravam-se em manutenção.
O Midget Mustang com a pintura comemorativa de 50 anos do projeto (1948-1998)
Após o contato visual com esses dois belos aviõezinhos, chegava a hora de ir embora e pensar no futuro. Afinal, naquele dia eu adquiri uma gama de informações de valor incalculável. Palavra de ex-leigo! Ali sim, senti a segurança e a coragem necessária para encarar sem medo o que viesse pela frente.
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